domingo, 28 de outubro de 2007

O Guardador das Rotas e das Rótulas – IV

Ordenar a Paisagem

Importa detectar, atender e decifrar os sinais que indicam o caminho adequado à animação e actualização do património português – “retirai novos de velhos tesouros” ordena o Livro Sagrado.

Afigura-se ventral e redutora toda e qualquer atitude, em qualquer que seja o nível de intervenção, que pretenda contribuir para o ordenamento da paisagem e que trate o seu objecto como uma ilha, ou como uma parte, ou como um fragmento. Não é possível determinar regras para o ordenamento arquitectónico, urbano ou rural isolando o objecto da sua circunstância física e metafísica. A urbe como suporte da cidade, por exemplo, é o corolário de uma sucessão dinâmica da vida comunitária já conhecida pelos romanos – Silva, Saltus, Ager, Hortus e Urbes, é a ordem pela qual a sabedoria clássica nomeou essa sucessão, não sendo a seguinte sem a anterior sendo sempre todas. Essa ordem não se desenvolve senão em movimento perpétuo e pendular entre centros de distribuição e pontos de encontro, termos hierarquizantes de toda a dinâmica territorial.

Assim, quando se trata de ordenar a paisagem com enfoque especial na urbe, toda e qualquer atitude de contornos ventrais que omita o entendimento da mesma como lugar onde tudo se une e tudo se cinde – convergência de pastores, agricultores e pescadores; estância de indústrias e de mercadores; sublimação e irradiação de sabedoria – prejudicará e debilitará o sentido de justiça, harmonia e paz que na verdade sempre deve irradiar de toda a obra que vise estabelecer as notas caracterizadoras e as regras que auxiliem a eficaz gestão urbanística de uma cidade. Neste sentido, a cidade portuguesa é pois um órgão que pertence a um organismo vivo que através de Portugal atinge os limites do mundo em movimento perpétuo de extensão e contracção, gregário e diaspórico.

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