domingo, 28 de outubro de 2007

O Guardador das Rotas e das Rótulas – VII

O Desenho e o Desígnio

Face aos desafios internacionais a conformação do orbe e da urbe reflecte a atitude de defesa e projecção perante potenciais reordenadores e desordenadores; essa atitude tem suas expressões nos elementos físicos que definem os espaços e ritmam os tempos. Como temos vindo a referir, afigura-se premente a definição de indicadores essenciais ao entendimento da paisagem que conduzam ao seu certo e justo ordenamento; o estudo da logística assume particular e decisivo relevo na definição dos fluxos e dos estabelecimentos que caracterizam a vida que do homem pende. Casos de estudo a enunciar, pela posição geográfica e pelo património que guardam, revelam-se notáveis e singulares casos de caracterização.

A procura de caracteres da mobilidade humana por identificação de rotas e rótulas notáveis, que por metodologia de caracterização fisiográfica do suporte territorial entroncada nas expressões da humanização da paisagem respectiva, tende a revelar hierarquias intemporais das deslocações, interacções e assentamentos humanos no orbe e nas urbes.

Para o ordenamento da paisagem, implica e afigura-se decisivo o estudo rigoroso e objectivo em certos domínios, com elaboração e fixação de elementos caracterizadores do ambiente em causa e indiciadores de procedimentos projectuais possíveis. Esses elementos, entre outros, poderão consistir na produção de cartografia reveladora nos seguintes domínios: fisiografia com a identificação e hierarquização de festos e talvegues; identificação dos ventos dominantes, suas características e rumos específicos; as incidências da luz e ensombramentos potenciais, com exposições genéricas e específicas do relevo; condicionantes geológicas, com noções das estruturas e dinâmicas tectónicas; definição, caracterizações genérica e especifica, e delimitação defensiva dos solos férteis; identificação e protecção dos mananciais hidrológicos; identificação e caracterização de campos electromagnéticos e outras emanações energéticas; indicadores toponímicos; a potencialidade dos locais decorrente do estudo de aptidão segundo a exposição. Importa também destacar estudos de sobreposição de vias, como sejam as de transumância de gados, as do ordenamento romano, as da composição cristã do mundo, as decorrentes do motor de combustão, as da era cibernética. Também cabe lembrar a importância do registo da sobreposição de edificações, como sejam: os castros, os castelos, as fortalezas, as bases militares, as telecomunicações, as estruturas portuárias, a assistência humanitária através de capelas, ermidas, gafarias, estalagens, hospitais, etc.

As rótulas consistem em centros de encontro ou centros de distribuição, sendo que destes, numa abordagem fisiográfica, de um modo genérico e com carácter intuitivo, os primeiros podemos identificá-los nas separações dos festos e os segundos nas convergências de águas. A rótula gera a região que será ordenada a partir de uma urbe, uma quinta, uma ermida, uma capela, um convento, um mosteiro, um castelo… que, em função de uma série de factores, assume posição hierarquicamente estratégica na região que lhe cabe. É nas relações polares e pendulares que os homens incessante e incansavelmente desde a origem cumprem entre rótulas, que sobre o suporte ficam gravadas as rotas, qual forma análoga àquelas das águas sobre os solos que sulcam.

Descobrimos e caracterizamos a razão da forma da paisagem nas interacções humanamente impressas e inteligidas sobre a circunstância histórica natural e artificial do mundo. O desígnio da humanidade patenteia-se nos sinais implícitos e explícitos que se revelam nas formas do frenesim da imensa existência. É na capacidade de leitura e exposição desses sinais que reside o segredo da arte de bem ordenar a paisagem; estamos a falar do que o Desenho é, ou seja, o Desígnio.

Sem comentários: